Para conhecer mais sobre a história e importância das Caixas de União Popular veja também os seguintes artigos:
- Cooperativismo de crédito na região noroeste do Rio Grande do Sul nas prímeiras décadas do século XX. Trabalho de Josei Fernandes Pereira.
RESUMO do trabalho de Josei publicado na Revista Semina da Universidade de Passo Fundo - UPF, v.09, n- 1 de 2010:
Analisando a conjuntura histórica e a experiência
social e econômica do cooperativismo de crédito, procurou-se apresentar um
panorama das condições enfrentadas num espaço e tempo específico: a região de
Ijuí-RS, no início do século XX. O cooperativismo de crédito emerge na
pós-revolução industrial e, junto com a imigração, foi considerado modelo de
reação não-governamental dos camponeses. A região noroeste do RS, habitada primordialmente
por indígenas, lusos e caboclos, foi colonizada por imigrantes das colônias
velhas a partir de 1890. Buscavam novas terras para exploração agrícola utilizando
um modo de divisão familiar do trabalho, orientado para a obtenção da propriedade
da terra, mesclado com atividades de subsistência. A mercantilização da produção
era inevitável para o sucesso da colônia; dependia da inserção da família na economia
regional e a obtenção de recursos financeiros para o lote, que eram escassos na
colônia. No RS pré-1930 inexistiam bancos fora dos centros econômicos e nas colônias
atuavam comerciantes e correspondentes bancários que sujeitavam os imigrantes à
prática da usura. O projeto colonial auto ordenou-se a partir de formas de organização
social e econômica, como o cooperativismo de crédito que, capitalizando coletivamente
as pequenas economias coloniais, interferiu na vida pública destas comunidades,
financiando a produção e a mercantilização necessária para o sucesso da colônia,
defendendo os interesses dos colonos associados e até executando obras de infra-estrutura.
(Para ver o artigo completo, em PDF, clique no título).
- Redes deAssociações Agrícolas no sul do Brasil – União Popular e Liga das UniõesColoniais – Um estudo comparativo de Erneldo Schallenberger
INTRODUÇÃO
Em outra oportunidade
ocupei-me da socioeconomia solidária, tratando de tema do social-catolicismo enquanto
conjunto doutrinário básico de um estatuto social fundado nas relações de
cooperação e com forte recorrência à força do fenômeno religioso-criador.1 Na
Europa, as idéias do social-catolicismo foram criando corpo, principalmente na
segunda metade do século XIX, em virtude dos efeitos inesperados da revolução
industrial sobre o tecido social, desencadeando um processo acelerado de concentração
de capital, de exploração da força de trabalho e de exclusão social. Numa
conjuntura de deslocamentos e de conflitos sociais, emergiram novas propostas
de inclusão social, notadamente a que se opôs à apropriação individual da
propriedade, dos bens da produção e do trabalho alheio.
No sul do Brasil, os
efeitos da revolução industrial podem ser identificados no processo da
imigração, pelo deslocamento de contingentes significativos de trabalhadores da
Europa. Esse processo adquiriu força e sentido a partir de um triplo movimento
histórico: o da pressão sobre o espaço e sobre o excedente da força de trabalho
na Europa, o da utopia dos contingentes emigráveis de encontrarem um novo
espaço para a construção da sua liberdade, da auto-suficiência e da recriaão da
sua identidade e o da política do estado brasileiro de integrar fronteiras e
prover a produção nacional de força produtiva. Os imigrantes, mesmo que
subsidiados no início pelo Estado, viram-se desamparados de políticas públicas
que lhes garantissem a sociabilidade, o fomento à cultura e a logística em
torno da produção e do mercado dos produtos coloniais.
A ausência de políticas
públicas revela a face de um estado que não via os imigrantes além do seu papel
social. Não reconhecia neles o horizonte utópico, no sentido de transpor os
próprios limites na direção da construção de uma nova nacionalidade. Não lhes
facultou práticas cidadãs e, tampouco, buscou mecanismos de coesão que os
libertassem da postura introspectiva de não perder o elo identificador da nação
de origem. No vazio institucional e político deste espaço apresentou-se a
Igreja da Imigração, católica e evangélico-luterana, identificada com as
correntes imigratórias porque oriunda do mesmo ambiente, para servir de elo de
coesão social, de fermento cultural e para legitimar as ações dos sujeitos sociais
e os espaços públicos em construção.
A dinâmica organizativa
resultante da ação integradora e articuladora dos agentes eclesiásticos e das lideranças
por eles formadas ou a eles associadas promoveram a uma organização que
corroborou e, ao mesmo tempo, transcendeu a consolidação do campo missional. O
capital religioso contribuiu com a arregimentação dos ideais dos sujeitos
sociais da colonização, no sentido de fazerem convergir interesses em torno de
uma integração mínima capaz de arranca-los da precária organização social e
criar institutos fomentadores do avanço cultural e da melhoria das condições
materiais de vida. Foi este o espírito que arregimentou os valores étnicos para
transcender as diferenças confessionais. A fundação da Associação Rio-grandense
de Agricultores, em 1899, ocorrida num contexto de emergência de associações
com fins de defesa dos interesses econômicos, foi concebida como instituição
interconfessional para promover o bem-estar material e espiritual dos colonos,
entenda-se de descendência alemã.
A trajetória da Associação
Rio-grandense de Agricultores foi marcada por profundas contradições. Os elos
de identidade e de cooperação desejados por seus idealizadores encontraram
resistência de ordem psico-social, resultante da ruptura da tradição e da
representação religiosa, que afastava católicos e protestantes da cooperação e
da comunhão de interesses em função das diferenças confessionais que, em última
instância se distinguem na consciência, na esperança e, sobretudo, na fé e nas
suas mediações para que o homem alcance a sua plenitude. Se a solidariedade
étnica, independente do fator religioso, foi uma prática constante no cotidiano
das zonas de colonização, o mesmo não se pode dizer da articulação de um poder
local em função da materialização de projetos estratégicos, uma vez que a
contradição e a divergência de interesses residem nas utopias, ou seja, na
representação dos caminhos da realização plena dos homens. Neste caso, os
limites da Associação Rio-Grandense de Agricultores esbarraram na necessidade
da construção de uma nova identidade para que fosse possível a prática da
solidariedade.
A Associação Rio-Grandense
de Agricultores não esteve isenta da influência da cultura política. O padrão cultural
presente entre os imigrantes alemães, católicos e protestantes, foi fator de
inibição da cooperação.
Na origem, os alemães
católicos vindos ao Brasil mantinham uma postura reativa diante do Estado, uma vez
que sofreram forte retaliação, repressão e exclusão cidadã. Buscaram na
tradição étnica e religiosa os elementos para a organização de comunidades
cívicas, isto é, com obrigações dos indivíduos para com as comunidades, que
visaram construir a sua auto-suficiência e conquistar, pelo reconhecimento da
igualdade étnica, o direito
da liberdade religiosa. Os evangélico-luteranos, próximos do Estado liberal e autoritário
alemão e liberados pela constituição republicana brasileira, pelo dispositivo
da universalização dos direitos de profissão da fé, distinguindo o reino da fé
do reino temporal, não tiveram dificuldade de se aproximar do ideário político
do Estado.
De uma origem
interconfessional comum, a Associação dos Agricultores Rio-grandenses, num
contexto de pressão do Estado sobre a sociedade e em função dos padrões
culturais prevalecentes e da cultura política dos católicos e dos
evangélico-luteranos, foi dividida, dando origem a duas redes de associações que
marcaram a trajetória da construção social do sul do Brasil – A Sociedade União
Popular dos Alemães Católicos do Rio Grande do Sul e a Liga das Uniões
Coloniais. É objeto do presente estudo marcar as diferenças e estabelecer
relações comparativas entre as duas organizações, para deslindar os marcos
social e político-econômico de cada uma no processo de desenvolvimento
regional.
(Para ver o artigo completo em pdf, clique no título).
Nenhum comentário:
Postar um comentário