sexta-feira, 13 de julho de 2012

Caixa Rural União Popular de Ijuí

Reportagem/registro publicitário publicado em 1965 no  "Álbum Comemorativo" dos 75 anos de Colonização de Ijuí, publicado  pela Editora Revista Brasileira (que tinha por objetivo mostrar os municípios do Brasil). Infelizmente na edição publicada não consta a sede da Editora, apenas cita o nome de seu editor: H. P. Müller.
 Para conhecer mais sobre a história e importância das Caixas de União Popular veja também os seguintes artigos:

- Cooperativismo de crédito na região noroeste do Rio Grande do Sul nas prímeiras décadas do século XX. Trabalho de Josei Fernandes Pereira.

RESUMO do trabalho de Josei publicado na Revista Semina da Universidade de Passo Fundo - UPF, v.09, n- 1 de 2010:
Analisando a conjuntura histórica e a experiência social e econômica do cooperativismo de crédito, procurou-se apresentar um panorama das condições enfrentadas num espaço e tempo específico: a região de Ijuí-RS, no início do século XX. O cooperativismo de crédito emerge na pós-revolução industrial e, junto com a imigração, foi considerado modelo de reação não-governamental dos camponeses. A região noroeste do RS, habitada primordialmente por indígenas, lusos e caboclos, foi colonizada por imigrantes das colônias velhas a partir de 1890. Buscavam novas terras para exploração agrícola utilizando um modo de divisão familiar do trabalho, orientado para a obtenção da propriedade da terra, mesclado com atividades de subsistência. A mercantilização da produção era inevitável para o sucesso da colônia; dependia da inserção da família na economia regional e a obtenção de recursos financeiros para o lote, que eram escassos na colônia. No RS pré-1930 inexistiam bancos fora dos centros econômicos e nas colônias atuavam comerciantes e correspondentes bancários que sujeitavam os imigrantes à prática da usura. O projeto colonial auto ordenou-se a partir de formas de organização social e econômica, como o cooperativismo de crédito que, capitalizando coletivamente as pequenas economias coloniais, interferiu na vida pública destas comunidades, financiando a produção e a mercantilização necessária para o sucesso da colônia, defendendo os interesses dos colonos associados e até executando obras de infra-estrutura.
(Para ver o artigo completo, em PDF, clique no título).


 INTRODUÇÃO
Em outra oportunidade ocupei-me da socioeconomia solidária, tratando de tema do social-catolicismo enquanto conjunto doutrinário básico de um estatuto social fundado nas relações de cooperação e com forte recorrência à força do fenômeno religioso-criador.1 Na Europa, as idéias do social-catolicismo foram criando corpo, principalmente na segunda metade do século XIX, em virtude dos efeitos inesperados da revolução industrial sobre o tecido social, desencadeando um processo acelerado de concentração de capital, de exploração da força de trabalho e de exclusão social. Numa conjuntura de deslocamentos e de conflitos sociais, emergiram novas propostas de inclusão social, notadamente a que se opôs à apropriação individual da propriedade, dos bens da produção e do trabalho alheio.
No sul do Brasil, os efeitos da revolução industrial podem ser identificados no processo da imigração, pelo deslocamento de contingentes significativos de trabalhadores da Europa. Esse processo adquiriu força e sentido a partir de um triplo movimento histórico: o da pressão sobre o espaço e sobre o excedente da força de trabalho na Europa, o da utopia dos contingentes emigráveis de encontrarem um novo espaço para a construção da sua liberdade, da auto-suficiência e da recriaão da sua identidade e o da política do estado brasileiro de integrar fronteiras e prover a produção nacional de força produtiva. Os imigrantes, mesmo que subsidiados no início pelo Estado, viram-se desamparados de políticas públicas que lhes garantissem a sociabilidade, o fomento à cultura e a logística em torno da produção e do mercado dos produtos coloniais.
A ausência de políticas públicas revela a face de um estado que não via os imigrantes além do seu papel social. Não reconhecia neles o horizonte utópico, no sentido de transpor os próprios limites na direção da construção de uma nova nacionalidade. Não lhes facultou práticas cidadãs e, tampouco, buscou mecanismos de coesão que os libertassem da postura introspectiva de não perder o elo identificador da nação de origem. No vazio institucional e político deste espaço apresentou-se a Igreja da Imigração, católica e evangélico-luterana, identificada com as correntes imigratórias porque oriunda do mesmo ambiente, para servir de elo de coesão social, de fermento cultural e para legitimar as ações dos sujeitos sociais e os espaços públicos em construção.
A dinâmica organizativa resultante da ação integradora e articuladora dos agentes eclesiásticos e das lideranças por eles formadas ou a eles associadas promoveram a uma organização que corroborou e, ao mesmo tempo, transcendeu a consolidação do campo missional. O capital religioso contribuiu com a arregimentação dos ideais dos sujeitos sociais da colonização, no sentido de fazerem convergir interesses em torno de uma integração mínima capaz de arranca-los da precária organização social e criar institutos fomentadores do avanço cultural e da melhoria das condições materiais de vida. Foi este o espírito que arregimentou os valores étnicos para transcender as diferenças confessionais. A fundação da Associação Rio-grandense de Agricultores, em 1899, ocorrida num contexto de emergência de associações com fins de defesa dos interesses econômicos, foi concebida como instituição interconfessional para promover o bem-estar material e espiritual dos colonos, entenda-se de descendência alemã.
A trajetória da Associação Rio-grandense de Agricultores foi marcada por profundas contradições. Os elos de identidade e de cooperação desejados por seus idealizadores encontraram resistência de ordem psico-social, resultante da ruptura da tradição e da representação religiosa, que afastava católicos e protestantes da cooperação e da comunhão de interesses em função das diferenças confessionais que, em última instância se distinguem na consciência, na esperança e, sobretudo, na fé e nas suas mediações para que o homem alcance a sua plenitude. Se a solidariedade étnica, independente do fator religioso, foi uma prática constante no cotidiano das zonas de colonização, o mesmo não se pode dizer da articulação de um poder local em função da materialização de projetos estratégicos, uma vez que a contradição e a divergência de interesses residem nas utopias, ou seja, na representação dos caminhos da realização plena dos homens. Neste caso, os limites da Associação Rio-Grandense de Agricultores esbarraram na necessidade da construção de uma nova identidade para que fosse possível a prática da solidariedade.
A Associação Rio-Grandense de Agricultores não esteve isenta da influência da cultura política. O padrão cultural presente entre os imigrantes alemães, católicos e protestantes, foi fator de inibição da cooperação.
Na origem, os alemães católicos vindos ao Brasil mantinham uma postura reativa diante do Estado, uma vez que sofreram forte retaliação, repressão e exclusão cidadã. Buscaram na tradição étnica e religiosa os elementos para a organização de comunidades cívicas, isto é, com obrigações dos indivíduos para com as comunidades, que visaram construir a sua auto-suficiência e conquistar, pelo reconhecimento da
igualdade étnica, o direito da liberdade religiosa. Os evangélico-luteranos, próximos do Estado liberal e autoritário alemão e liberados pela constituição republicana brasileira, pelo dispositivo da universalização dos direitos de profissão da fé, distinguindo o reino da fé do reino temporal, não tiveram dificuldade de se aproximar do ideário político do Estado.
De uma origem interconfessional comum, a Associação dos Agricultores Rio-grandenses, num contexto de pressão do Estado sobre a sociedade e em função dos padrões culturais prevalecentes e da cultura política dos católicos e dos evangélico-luteranos, foi dividida, dando origem a duas redes de associações que marcaram a trajetória da construção social do sul do Brasil – A Sociedade União Popular dos Alemães Católicos do Rio Grande do Sul e a Liga das Uniões Coloniais. É objeto do presente estudo marcar as diferenças e estabelecer relações comparativas entre as duas organizações, para deslindar os marcos social e político-econômico de cada uma no processo de desenvolvimento regional.
 (Para ver o artigo completo em pdf, clique no título).

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