Reprodução de capa do jornal "A Platéia", de Santana do Livramento, RS, do dia 31 de março de 1971. |
Texto, pesquisa e fotos publicado originalmente no Blog “Jogos de
Memória”, de Marlon Aseff, sob o título de “O DOPs nas ruas de Riveira”.
Disponível em: http://jogosdamemoria.blogspot.com.br/2010_04_01_archive.html
A edição do jornal santanense A Platéia, de 31 de março de 1971,
estampava a tentativa de sequestro em Rivera do ex-deputado estadual e
ex-prefeito de Ijuí, Beno Orlando Burmann (PDT-RS). Diva Burmann, companheira
de Beno no exílio rememora no texto acima a ação dos homens do DOPS gaúcho, em
mais uma operação que não distinguia limites territoriais, subscrita pela
doutrina de segurança nacional. Este artigo também foi publicado em Retratos do
Exílio, Solidariedade e Resistência na Fronteira (Edunisc, 2009), de autoria de
Marlon Aseff.
"Ele estava lá em Rivera, e
uns amigos dele, que ele tinha contato com gente da fronteira, ele sempre
seguiu fazendo contato, com gente que queria fazer uma contra-revolução, o
contra-golpe. E marcaram pra ir encontrar com ele, e deram um nome. Mas ele não
conhecia quem era. E aí ele pegou o carro, e eu disse, tu não vai sózinho, tu
não sabe quem é...e aí nós fomos.
Foi ali perto da Delegacia de
Rivera, ali tem uma Igreja, e uma ruazinha que não tem muito movimento. Eu
fiquei dentro do auto, ali perto da igreja católica. E ele desceu e foi a pé lá
para encontrar essa pessoa. Ele não sabia quem era. E quando ele foi lá
encontrar era uma cilada. Tinham cinco, e tentaram pegar ele, e ele era um
homem forte, porque nós tínhamos uma chácara, e ele revirava aquelas terras,
fazia horta (...) E daí foi quando quiseram prender ele, empurraram ele pra
dentro da camionete, duas ou três vezes, e ele dava um pulo, e não conseguiam
segurar ele. Ele era muito grande e forte. Da última vez ele disse que já
estava dentro, quando ele fincou com o pé no banco, empurrou assim o pé no
banco e caiu pra fora. E gritou: - Tão me seqüestrando! Gritou, gritou e ia
passando um cara da polícia, que é bem perto a delegacia ali, e disse: É o
deputado Burman, tão sequestrando!
Porque tinha guarda do Uruguai
que cuidavam dele, que iam lá em casa. E quando ele gritou assim, o cara esse
era conhecido até nosso, sabe? Era um sargento ali da brigada de Rivera. E viu
isso e pegou e veio correndo de revólver e deu um tiro, e eles se assustaram e
soltaram o Orlando e correram. E ele ainda deu uns tiros nos pneus do carro. E
atiraram o Orlando e tentaram passar por cima do Orlando, que estava caindo
assim no lado. Mas ele deu uns tiros e não conseguiram pegar ele. Senão iam
matar o Orlando, já tinham matado um antes, uma guria que teve lá em casa.
Gente daqui. Era uma guria que tinha vindo de São Paulo, foi se exilar, filha
de um médico".
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