Casal Martin Fischer e Charlotte Wollermann em 1969. |
Todo ser humano,
independente de sua cor, raça, língua, condição social, credo, país, trás
dentro de si a ânsia de encontrar seu grande amor, aquele que resgatará os
sentimentos mais profundos de sua alma e caminhará ao seu lado, tornando mais
feliz esta existência.
Existem
histórias de amor que ultrapassam a barreira do tempo, das dificuldades,
marcando profundamente aqueles que trazem consigo um amor na sua essência.
Martin Fischer |
No ano de 1933,
conforme informações no passaporte que se encontra dentro do Arquivo do Museu
Antropológico Diretor Pestana, chegava ao Brasil em companhia do Dr. Martin
Fischer aquela que foi sua companheira inseparável .
Charlotte
Wollermann, também conhecida como "Dona Carlota", nasceu em Bartenstein/Alemanha em
27/11/1902. Tinha vinte e cinco anos a menos que seu grande amor Dr. Martin
Fischer, entretanto essa diferença de idade nunca foi uma dificuldade na convivência
do casal. Também embora em muitas correspondências ele tenha se referido a
Charlotte como “sobrinha”, não conseguimos chegar através de nossas pesquisas,
a qualquer documento que comprovasse que realmente existia esse tipo de
parentesco entre eles.
Quando Fischer
chega pela primeira vez ao Brasil em 1921, encontramos na certidão de registro de
estrangeiros (MADP 0.6.4 pasta 02 documento 4) o seu estado civil como “divorciado”
de Hedwig Ohlrogge, casamento de pouca duração. Pois traduzindo cartas em
alemão escritas por ele, entendemos que ter vivenciado e sofrido na pele os
horrores da Primeira Guerra Mundial, fizeram com que ele repensasse o que desejava
para o seu futuro e não tinha mais condições emocionais para manter um
casamento sem amor.
Charlotte |
Amor este que
após anos encontrou ao lado de sua Charlotte, que deixou a Alemanha, sua
família, e trabalho para se aventurar com Fischer nas terras do Brasil. Também nas
terras da Argentina, onde conviveu com amigos da Europa na Vila "La
Germânia", passeios ao zoológico e uma vida confortável. Mas com o avanço do nazismo, surge a decisão difícil de retornar ao Brasil e viver
na propriedade rural em Iraí, SC, sem grandes luxos, trabalhando com Fischer lado a
lado. Enfrentando o golpe do sócio Antonio Pauly, a falta de dinheiro e a prisão
de Fischer por denuncias de que ele era espião nazista. (Ver outro artigo que relata mais detalhadamente a vida do casal em Iraí e as dificuldades que lá enfrentaram: http://ijuisuahistoriaesuagente.blogspot.com.br/2012/08/serie-dr-martin-fischer-03-sobrevivente.html
Quando lemos as
cartas, telegramas, bilhetes, trocados por Charlotte e Martin em suas longas
viagens, conseguimos perceber a grandeza desse amor, a preocupação que tinham um com o outro. A vontade de ter uma
casinha simples, onde Charlotte poderia plantar vasos de flores. E não podemos
deixar de nos emocionar com a carta do Natal de 1944, onde Charlotte grávida
escreve a Martin "... se Deus quiser, no Natal do ano que vem, vamos ser muito, muito
felizes, nós dois em companhia do ser mais querido que pode existir neste mundo
para ti e para mim”... (MADP 0.6.4 pasta 05 documento 232). E a tristeza do
nascimento do filho “natimorto”, após um parto que quase a leva também a
morte... Ela escreveu "...vieram me falar de um bebê que nasceu em Porto Alegre todo saudável, como
podem desconsiderar assim a dor da perda que tivemos...”.
Fotos do álbum de família de Charlotte onde aparece ela, sua irmã Hilda, seeu pai, mãe e irmãos. |
Sentimentos,
transformados em palavras, palavras perpetuadas em frases de carinho e amor que
perpassam o papel e nos comovem "....Sejas aonde for, os meus pensamentos e
meus desejos estão contigo com todas saudades. Eu te beijo e te abraço, ficando
sempre a tua Carlota”. (MADP o.6.4 pasta 05 documento 234).
Neste terreno, numa velha casinha de madeira, na rua Germano Gressler, 45 por muitos anos morou o casal Fischer |
E o
casal Fischer viveu em Ijui, uma vida simples, na velha casinha de madeira, na
rua Germano Gressler, número 45, unidos pela sua cumplicidade, dificuldades,
alegrias, tristezas, com um amor
inabalável.
Em
16 de setembro de 1979, Martin Fischer deixa sua vida terrena, para continuar
sua trajetória no mundo espiritual.
Charlote
faleceu no dia 14 de fevereiro de 1987, foi encontrada morta por sua vizinha. Não
teve homenagens, nem manchetes nos
jornais, também não foi decretado
luto oficial na cidade .
As fotos acima do álbum de família de Charlotte Fischer fazem parte do acervo do MADP de Ijuí. |
Mas ela sabia que nada disso era necessário,
pois o que realmente importava era que o Universo já comemorava enfim, o
reencontro de duas almas que se amavam verdadeiramente.
Pesquisadora e historiadora Márcia Adriana Krug
q linda historia de amor! obrigada por partilha-la.
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