domingo, 24 de março de 2019

quarta-feira, 20 de março de 2019

Cemitério da Picada da Conceição - do Distrito de Barreiro - município de Ijuí... - Parte 1


NECESSIDADE DE CRIAÇÃO DE UM CEMITÉRIO JUNTO A PICADA DA CONCEIÇÃO, BARREIRO, NO INICIO DO SÉCULO PASSADO...

Um problema que os principais chefes de famílias da Picada da Conceição, no início do século passado, tiveram que resolver às pressas foi a localização do cemitério. Pouco tempo depois da chegada, foram surpreendidos pela morte inesperada de um dos pioneiros – Francesco (Francisco) Anderloni.




O LOCAL DESTINADO PARA SER O PRIMEIRO CEMITÉRIO DO BARREIRO por José Gabriel, proprietário da maioria das terras da região, e responsável pela administração da localidade, era inadequado, por ser muito úmido. A solução foi dada por Pietro (Pedro) Cereser, que cedeu um naco de terra de sua propriedade, no alto da coxilha, no lado sul da picada, onde hoje ainda se situa, tendo havido apenas a ampliação da área.



O PRIMEIRO IMIGRANTE ENTERRADO NO CEMITÉRIO
DA PICADA DA CONCEIÇÃO - BARREIRO 
  
 Segundo Argemiro Brum, a memória oral de pessoas mais antigas da localidade, nascidas já no século XX, indicava ser (Luigi) (Luís) Anderloni, a primeira pessoa falecida na localidade e a ser enterrada no Cemitério do Barreiro. O Monesenhor Pio José Busanello, no entanto, em seus apontamentos, guardados no arquivo do Museu Antropológico Diretor Pestana – MADP, junto a FIDENE/UNIJUÍ, registra Francesco (Francisco) Anderloni. Em levantamento realizado no arquivo Histórico do Rio Grande do Sul, em Porto Alegre, Argemiro encontrou registro referente ao imigrante italiano Francesco Anderloni, casado com Luigia (Luísa), com uma filha solteira de nome Giocunda (Gioconda), que recebeu o lote rural 531, na então Colônia de Silveira martins. Não foi encontrada nenhuma referência a um possível imigrante italiano de nome (Luigi (Luís) Anderloni. 
    O nome da esposa (Luigia = Luísa) poderia ter influenciado a memória oral. O nome Francesco (Francisco) Anderloni também se confirma em outra prova documental. Trata-se do registro da escritura da compra de uma colônia de terra na Picada Conceição, sob o no 1.584, efetuado em 22 de maio de 1901, realizado no Cartório de registro de Imovéis de Cruz Alta, tendo José Gabriel da Silva Lima como vendedor e Pietro (Pedro) Cerezer como comprador, sendo que a dita colônia, de acordo com o referido registro, faz divisa “ao Oeste, com a colônia da viúva de Francisco Anderloni”. (Página 75).




O VELÓRIO – SEPULTAMENTO ENTRE OS IMIGRANTES 

    A morte impunha respeito e reflexão. Quando morria alguém, o sino da capela tocava monotonamente o dobre de finados. Cada família, mesmo na roça, ao ouvir o aviso, destacava um de seus membros para ir até a sede da povoação, a fim de informar-se a respeito de quem se tratava, e da hora do sepultamento. O velório era concorrido. E a comunidade inteira se mobilizava para ir ao enterro, acompanhando, em procissão, o féretro. 

    Durante o trajeto, os acompanhantes rezavam e entoavam cânticos pela alma da pessoa falecida. Caso se tratasse da morte de uma criança, esta, embora lamentada, era geralmente menos chorada. Pois afinal, tratava-se de “um anjinho que ia diretamente para o céu” – o destino final que todos buscavam.




O VELÓRIO – SEPULTAMENTO ENTRE OS CABOCLOS – 
moradores nativos das terras do IJUHY de ANTIGAMENTE 

Entre os caboclos o ritual fúnebre era bastante diferente, além de bem mais simples. Tanto o velório como enterro, em geral ficava restrito a eles próprios. Raramente algum descendente de imigrantes participava. Uma das primeiras providências, quando morria alguém dentre eles, era fazer uma cotização para adquirir uma quantidade razoável de cachaça, destinada a entreter e animar os que participavam do velório. Isso, e outras atitudes estranhas, bastante comuns, era visto como falta de respeito pelos imigrantes e seus descendentes, e, consequentemente, condenado e até ridicularizado.

FONTE: Extrato do livro “História da Picada Conceição (Barreiro)”, de Argemiro Jacob Brum, publicado em 1990, no ano do Centenário de Ijuí, pela Livraria UNIJUÍ Editora, em parceria com o MADP. Livro Esgotado. Página 76.