quarta-feira, 16 de março de 2011

Recepção do Cel. Antônio Soares de Barros - o Cel Dico - vindo de Porto Alegre, em 1910. Mas afinal, qual seria o contexto sócio-político de Ijuí, e do próprio Cel. Dico, que estaria atrás desta foto?

A recepção aconteceu na rua do Comércio (chão de terra) próxima do prédio onde funcionava a Intendência da Vila de Ijuhy,  esquina com a rua Benjamin Constant. As casas que aparecem na foto abaixo do prédio principal já não existem mais.
O local é o mesmo da recepção ao Cel. Dico em 1919, mas  o tempo passou e hoje a rua do Comércio está asfaltada e o antigo prédio que se destacava na foto de cima não funciona mais como sede política administrativa do município. Anos mais tarde, tendo já o Cel. Dico como Prefeito, o mesmo construiu um novo e belo edifício para ser a sede do Município, ou seja, o atual e majestoso  prédio onde hoje está Prefeitura Municipal de Ijuí, de frente para a rua Benjamin Constant. Assim, o prédio da esquina teve outras funções. Foi usado por muitos anos como sede da Comarca e Fórum de Ijuí. Nos tempos mais modernos, serviu como sede da Secretaria de Obras do Município. Atualmente, continua servindo como local de alguns serviços e escritórios da Administração Municipal.
Portanto, qual seria o contexto sócio-político de Ijuí que estaria por trás da foto tirada  no ano de 1910?

Uma interpretação:  Os primeiros passos da carreira política do Cel. Dico e a construção do projeto de emancipação política/administrativa de Ijuí.

O primeiro destaque a se fazer é que, ainda, naquele ano não existia a estrada de ferro ligando a então Colônia de Ijuhy e a sede do município em Cruz Alta. A estrada já estava sendo construída. As obras iniciaram em 1906, graças à iniciativa de alguns colonizadores, que preocupados com a falta de transportes, resolveram reivindicar o ramal, que seria mais tarde o “elo” de ligação entre os municípios de Cruz Alta e Santa Rosa, além de beneficiar as cidades de Ijuí e Santo Ângelo. A ligação até Ijuhy somente foi inaugurada, no ano seguinte, no dia 11 de outubro de 1911.
Portanto, para se fazer essa viagem de uma forma mais confortável, o Cel. Antonio Soares de Barros  precisou, inicialmente, ir até Cruz Alta, então sede do município, para pegar o trem até Porto Alegre, capital. Nesse deslocamento de Ijuí a Cruz Alta (cerca de 50 km) se levava alguns dias a pé, a cavalo ou de carroça, por trilhas. 
A foto é da Estação férrea de Cruz Alta, por volta de 1910, de onde o  Cel. Dico embarcou à Porto Alegre. Foto disponível em: http://ronaldofotografia.blogspot.com/2011/01/estacao-ferrea-de-cruz-alta-1914.html

    Chegando em  Cruz Alta ele teria, ainda, mais algumas longas horas/dias de trem (Maria Fumaça) até  Porto Alegre, passando por Santa Maria.

Eis o prédio da Viação Férrea de Santa Maria que foi construído em 1885. Na década de 20, recebia gado. A foto mostra lotes de animais procedentes de diferentes fazendas gaúchas, aguardando para serem transportados para o local da Exposição Agropecuária-Industrial (no antigo Prado), inaugurada em 24 de maio de 1914, para os festejos do Centenário de Santa Maria. Por ela, Antonio Soares de Barros também passou. Foto disponível em: http://santamaria-rs-brasil.blogspot.com/2009/08/estacao-ferroviaria.html

Na volta de Porto Alegre para Ijuí o trajeto e a duração  da viagem praticamente foram o mesmo tempo. Ida e volta demorou uma semana ou mais tempo.

Antiga Estação Ferroviária da VFRGS, em Porto Alegre, construída por volta de 1910. Foto disponível em: http://www.skyscrapercity.com/showthread.php?p=47477731
          
Assim, na conclusão desta maratona  tinha que se fazer realmente  uma grande festa, pois tal empreendimento não era tão barato e trazia um desgaste físico bastante grande.
Na verdade,  entendemos,  que essa viagem teve um caráter político/comercial. Uma vez que somando-se ao fato que o Cel. Dico já era o mais forte comerciante da Vila, em ascensão política, paralelamente com seu irmão Salatiel Soares de Barros, em Cruz Alta; e ambos de alguma forma grandes investidores na construção da Ferrovia, logo a nossa conclusão é que certamente o Cel. Dico teria ido à capital do Estado para tratar de negócios, em especial sobre o andamento das obras de construção da ferrovia. E, talvez ainda, a possível elevação da Vila ao “status” de Município, o que o tornaria independente de forma político/administrativa de Cruz Alta, o que de fato  aconteceu  um pouco mais tarde, isto é, no dia 31 de janeiro de 1912.
Igualmente, nessa viagem,  e em outras, ele foi “costurando” algumas negociações políticas que o levaria a ser o substituto natural quando da saída do primeiro Intendente nomeado da cidade de Ijuí, Engenheiro Augusto Pestana, o que aconteceu seis meses após ter assumido o cargo, ou seja no dia 11 de julho de 1012.
 Imediatamente o Cel. Antonio Soares de Barros foi nomeado  pelo Presidente (Governador) do Estado do Rio Grande do Sul  como Intendente provisório até o dia 30 de dezembro de 1912, e depois como intendente eleito por duas  administrações, até o dia 03 de janeiro de 1938.
 Luis Carlos Ávila - Bagé

4 comentários:

  1. Luís, pesquisando sobre a origem da minha família (Kommers), encontrei a informação de que eles entraram no Brasil pelo Porto de Santos, em 04/12/1897 com destino a E.M.M.A.S., fazenda do Cel. Antônio Paes Barros, em Ijuí.

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  2. Para informação, esta fazenda não ficava em Ijuí. Era provavelmente uma fazenda de café do interior de SP. Desculpem o equívoco.

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