sexta-feira, 21 de setembro de 2012

O Parque da Pedreira em Ijuí - na história de vida de uma familia ijuiense!

Um visual parcial do Lago da Pedreira em Ijuí, localizado na Linha 3 Oeste, no limite da área urbana com a rural. Ali funcionou por muitos anos uma grande pedreira municipal (após a desativação da pedreira que estava localizada em pleno centro da cidade, na rua 24 de Fevereiro). Atualmente há um grande projeto de reurbanização do local. Limpeza, transferência de algumas moradias que ocupavam a área ilegalmente, e por fim a transformação num grande e belo parque público da cidade.

O Parque da Pedreira
 por Teobaldo Branco

Texto publicado originalmente no dia 16/11/2011, no Portal Ijuí.Com. Disponível em: http://www.ijui.com/especiais/artigos/28152-o-parque-da-pedreira-por-teobaldo-branco

Publicado no Blog com autorização do autor.

 Neste texto emocionante, o professor Teobaldo Branco conta a história de sua família, particularmente de seu filho Élson João Antônio Branco que pereceu afogado nas águas do lago da Pedreira no início da tarde de 13 de março de 1983. Eis o bonito texto que o professor e escritor escreveu em homenagem ao seu filho Élson João Antônio Branco.

Élson João Antônio Branco com cinco anos. Ele é filho dos professores Teobaldo Branco e Verônica Branco. Élson nasceu em 15 de maio 1965 na Barra da Fortuna, no interior de Tenente Portela e pereceu afogado nas águas do Lago da Pedreira no início da tarde de 13 de março de 1983, quando estava perto de completar 18 anos. As foto publicadas a seguir são do álbum da família de Teobaldo Branco.
Uma saudade em memória familiar.

A última página que fechou uma história marcada com lágrimas na existência de uma família.

A história da vida de um menino que nasceu em 15 de maio de 1965, na Barra da Fortuna, Tenente Portela, estado do Rio Grande do Sul.  Élson João Antônio, filho de Teobaldo e Verônica Branco.

Ele, desde berço expressava um olhar místico, de forma enigmática, que refletia uma sensação  límpida, sábia, parecia algo oculto e profundo. Cresceu saudável contemplando horizontes de um futuro próspero, com muitos desejos. Na Barra da Fortuna foram dois anos iniciais numa aprendizagem de trabalhar e  viver em família.

O tempo passa e assim via se confirmando a trajetória de desenvolvimento do menino. Bem cedo começou a ler e escrever na escola, junto com seus pais professores, que tinham muita facilidade em compreender o meio, a história do mundo em que vivia.
O seu primeiro banco escolar foi na Escola Estadual de Barra do Gravatá, Braga/RS, onde cursou  até a 5ª série, concluindo o primeiro grau numa escola Estadual da cidade de Braga. Durante esse tempo caminhava 6 km todos os dias até a escola, por estrada irregular do interior.
Era um belo menino, com grande expectativa no destino de sua vida, ele era espontâneo e participativo com a família, na escola e grupos de suas relações.
Time da Escola. Élson com a bola, coluna da frente. O pai em pé, a direita.
Quando menino jogou futebol  no time da escola, e também treinava no Internacional de Sítio Tunes, uma localidade vizinha. Certa vez ele foi colocado no time adulto, ainda menino. Recebendo proteção dos companheiros, ele teve a sorte de fazer um gol contra um time de outra localidade. Lembro-me como se fosse hoje, ainda menino sendo enriquecido de pequenas glórias, para os pais e para ele era um júbilo, muita honra, momentos felizes.
O tempo ia passando e na localidade de Barra do Gravatá, Braga, nasceu em 15 de junho de 1971, um outro lindo menino, o mano, Gerson Luiz Carlos,  com uma diferença de 6 anos de idade. O Élson ajudou os pais cuidar de seu irmão e estudava. Ali foram 9 anos de labuta.
Havia segundo grau somente na cidade de Campo Novo, município vizinho, onde toda a família se transferiu para lá. Ele começou e concluiu o segundo grau na Escola Comercial de Campo Novo. Em Campo Novo assumia liderança no meio estudantil.
Representando a Escola – Semana da Pátria.
 Em 25 de julho de 1978 nasceu Bianca Meneia,  uma bela menina para dar perfeição à pátria  familiar, o Élson com 13 anos e o Gerson com 7 anos. Ambos eram saudosos, espontâneos e colaboradores com a família.
Com a mãe na formatura de 2º grau ao receber certificado.
Os dois meninos ajudavam os pais cuidar e  proteger a irmãzinha Bianca. Tudo era uma vida de sacrifícios e de exigências pelas dificuldades econômica que a família sofria, mas era imensa a vontade e a esperança de todos familiares ter um futuro de vida, de paz, saúde  e de felicidade. Em Campo Novo foram 6 anos de lida incessante.  Muitos sonhos.
 O menino Élson concluiu o segundo grau e fez vestibular  na Universidade de Ijuí - UNIJUÍ, onde ingressou no curso de administração de Empresas. Os pais professores estaduais conseguiram transferência para Ijuí em 1982, a partir de março. Em contato com o Professor Paulo Frizzo (da Universidade) o pai conseguiu emprego para o Élson, na biblioteca da Fidene/Unijuí, onde estudava e trabalhava. A família se organizou de forma precária, onde o estudo e o trabalho era a meta que se devia seguir.
A Bianca, então com três anos,  era levada pelo Élson até a Escola Maternal da Escola Francisco de Assis –EFA. O pai na Coordenadoria, a mãe na Escola do Osvaldo Aranha. Gerson estudava e ia buscar a Bianca na Escola  pela disponibilidade maior de tempo.
O menino Élson, adolescente sendo aprovado com resultados satisfatório na Faculdade, bem como, com ótimo desempenho no trabalho, ia vencendo obstáculos e apreciando os louvores da vida acadêmica.
No segundo ano foi transferido para o setor administrativo onde funciona o arquivo da informática da universidade. Eram dia e noite de trabalho e aulas incessantemente, mas tudo tem uma recompensa, na lei dos justos.
Jovem, homem de ideias, lutador, responsável pelo dever, sonhador e construtor soberano do bem, dos justos. Percebia-se a sua força ética como projeto pessoal de vida, com uma visão a frente do seu tempo.
Sonhador e fiel aos seus princípios, sendo receptivo de um vasto número de amizades com colegas, professores, parentes, familiares e meninas que lhe queriam. Ele era um menino galã  e de postura no mundo social.
Até  que um dia.... nma tarde de 13 de março de 1983, logo após ao meio dia ele recebeu seu amigo e colega Valdir, que o convidou para irem na Lagoa da Pedreira banhar-se. (Situada no final da Linha 3 Oeste, próxima ao Campus da UNIJUÍ e distante do centro da cidade 3-4 quilômetros).
Outra visão parcial do Lago da Pedreira, em Ijuí.
 Por volta das 15 horas da tarde chegou um estudante de Campo Novo em nossa casa e informou que houve um acidente com o Élson. Imediatamente nos dirigimos para o local e se percebeu que o mesmo era fatal.  Ele estava deitado sem vida na praia da lagoa, uma tragédia familiar, motivo para haver lágrimas durante todos os tempos... Não passa o luto enquanto se vive.
Uma vida ceifada que deixou um colorido jovem nas águas límpidas do Lago da Pedreira. Um testemunho da história de um personagem jovem, que permanecerá na memória das gerações, como marca eterna de uma vida, momento que fechou o livro, no local onde tombou.

quarta-feira, 19 de setembro de 2012

Laureano de Medeiros - o Pai do Tradicionalismo Gaúcho! Sempre buscou e trabalhou pela integração entre os imigrantes europeus que colonizaram nossa terra e o tradicionalismo gaúcho.

Capitão Laureano de Medeiros - o Pai do Tradicionalismo Gaúcho. Foto: Acervo particular de Ademar C. Bindé
Artigo de nossa autoria publicado no Jornal da Manhã, de Ijuí, edição 19-09-1987.
A vida e obra de Laureano de Medeiros na visão do jornalista e historiador Ademar Campos Bindé, publicado no jornal "O Repórter" de Ijuí, no dia 23/06/2010.
Para saber mais veja também:

terça-feira, 18 de setembro de 2012

segunda-feira, 17 de setembro de 2012

Série Dr. Martin Fischer - 04: Plínio Brasil Milano - Primeiro Chefe do DOPS do RS e treinado pelo FBI dos EUA


Delegado Plínio Brasil Milano treinado pelo FBI
       Plínio Brasil Milano nasceu na cidade do Alegrete, RS, no dia 07 de outubro de 1908. Casou-se com Lucia Caldas, filha do fundador do jornal Correio do Povo e teve 4 filhos. Em 1932, na Capital formou-se em Direito, e foi como delegado de polícia que se projetou no cenário policial nacional e internacional. Articulador, reorganizou o aparelho policial do Estado do Rio Grande do Sul. Criou a biblioteca da Polícia Civil e a revista "Vida Policial". O periódico mensal era editado pela Chefia de Polícia do Rio Grande do Sul durante o Estado Novo e apresentava uma página intitulada ”Os astros da Coluna”, aonde ficavam fotografias, dados pessoais e  profissionais, de pessoas “suspeitas” de fazerem parte da “Quinta Coluna”[01] e que tinham passado pelo interrogatório do DOPS/RS.
        Plinio montou o primeiro serviço de contra-espionagem do País. Com este serviço desfez uma rede nazista no Rio Grande do Sul, que lhe valeu um convite do FBI (EUA) para participar de um curso de investigação (1943). Também desmantelou uma rede internacional de tráfico humano que atuava no RS, São Paulo, no Uruguai e na Áustria. Foi Milano que organizou a primeira ação de defesa civil no Estado durante a enchente de 1941 em Porto Alegre. Com seus homens, salvou centenas de vidas e evitou saques nas casas alagadas, além de distribuir agasalhos e alimentos. 

 O chefe do DOPS(RS) e agente do FBI

A Delegacia de Ordem Política e Social – DOPS do Rio Grande do Sul, (cuja sede estava situada na rua Santo Antônio, 600, em Porto Alegre), cujo primeiro chefe foi Plínio Brasil Milano, foi regulamentada como setor independente e especializado, a partir de 1937. No Rio Grande do Sul, o órgão responsável pela repressão dos crimes políticos até 1937 era a 3ª Delegacia Auxiliar.
Durante sua chefatura, Plínio estabeleceu importantes contatos com o FBI – órgão Departamento Federal de Investigação dos Estados Unidos responsável pelas investigações no território norte americano – pois, para a política externa norte-americana, o Rio Grande do Sul “era crucial para os planos de contra-espionagem” porque “tinha uma grande população de europeus natos ou de descendentes de europeus, e fazia limite com o Uruguai e Argentina, países que tendiam  para o Eixo”[02]  
Além disso,  Plínio era muito estimado pelo FBI, pois reconhecia a necessidade do Brasil possuir uma polícia política articulada e eficiente aos moldes da agência norte-americana, ou seja, “a avaliação que Plínio fazia das necessidades de segurança interna do Brasil coincidiam com as metas do FBI em relação ao Brasil”[03].
Plínio solicitou que um agente do FBI fosse trabalhar junto a ele no DOPS/RS, iniciando o processo de aperfeiçoamento da organização e do treinamento policial. Uma das evidências do aparelhamento do órgão gaúcho pela agência americana é a existência de um radiogravador utilizado para escutas telefônicas que se encontra no Museu da Polícia Civil, em Porto Alegre.
 Em memorando encaminhado à agência dos Estados Unidos, em 10 de abril de 1943, Plínio afirmava que o agente especial do FBI que trabalhasse no DOPS/RS “teria acesso aos arquivos da polícia, permissão para interrogar prisioneiros e gozaria de todos os direitos de um membro do DOPS/RS”.[04]
No início de 1943, o chefe do DOPS/RS foi  convidado pelo órgão para visitar a academia de treinamento em Washington, Estados Unidos. No seu regresso, ao término daquele ano, Plínio e quarenta agentes especiais do FBI foram designados para trabalhar na Polícia Federal do Rio de Janeiro. Mesmo com a transferência, Plínio continuou estabelecendo relações entre a polícia gaúcha e o FBI até sua morte. O período compreendido entre 1945 e 1964 apresentou em relação ao período do Estado Novo elementos de continuidade das práticas de polícia política e na legislação.[05]

Plinio Brasil Milano e Dr.Martin Fischer

Em nossas pesquisas, encontramos na “Coleção Martin Fischer”, existente no Museu Antropológico Diretor Pestana – MADP de Ijuí, que reúne documentos pessoais do imigrante e historiador  - que residiu  em Ijui (RS) até sua morte em 1979 - mais  uma carta, na qual, podemos observar as grandes relações que Dr, Martin Fischer possuía com nomes que fizeram a história do Rio Grande do Sul, do Brasil e do mundo.

Nesta carta em particular, datada de 30 de outubro de 1942, Martin agradece ao Delegado Chefe do DOPS(RS) Dr. Plinio Brasil Milano, a intervenção feita por ele, junto ao Delegado de Iraí, através de um simples telegrama, ordenando que o mesmo, coloca-se Fischer em liberdade, uma vez que ele ali se encontrava preso sob acusações de espionagem nazista. (Mais detalhes sobre esse episódio ver o artigo 03 da “Série Dr. Martin Fischer”, sob o título “Aspectos históricos e biográficos da vida de Martin Fischer, idealizador e fundador do Museu Antropológico Diretor Pestana - MADP de Ijuí - um ´HEIMATMUSEUM`!”, disponível em: http://ijuisuahistoriaesuagente.blogspot.com.br/2012/08/serie-dr-martin-fischer-03-sobrevivente.html

 Além do Dr.Martin Fischer, agradecer a Plinio por ter o considerado um ”homem de bem”, ainda deixa  muito claro que a partir daquele momento tinha uma  divída de  gratidão que nunca seria esquecida e que seria retribuída para o resto da sua vida. (conf.: MADP 0.6.4 pasta 05 documento 120).
Não sabemos se o Dr.Martin Fischer teve tempo de retribuir sua gratidão, pois Plinio Brasil Milano no dia 22 de outubro de 1944 , foi morto, aos 36 anos de idade, em Montevidéu, Uruguai, durante uma operação de contra-espionagem.
Mas, por outro lado, conseguimos entender a surpresa e a tristeza da noticia desta morte para Fischer, quando encontramos o telegrama enviado ao então Delegado do DOPS(RS) em 1944, Theobaldo Neumann  expressando  suas condolências (MADP 0.6.4 pasta 05 documento 133) e a correspondência  enviada ao Inspetor Chefe do DOPS (RS) Evaldo Bergmann, na qual as palavras escritas no papel questionam essa fatalidade... “Quem compreende o destino e a Divina Onipotência?”.... ( Martin Fischer,MADP 0.6.4 pasta 05 documento 134).
  Cópia de Telegrama despachado em 24 de outubro de 1944.
Acervo do MADP de Ijuí.
Transcrição do telegrama:  Ao “....Dr.Theobaldo Neumann, então Delegado Ordem Politica e Social – DOPS em Porto Alegre. Profundamente abalado pela noticia do falecimento do excelentíssimo benemérito Dr.Plinio Brasil Milano venho pela presente prestar a Vossência os meus sinceros pêsames. Respeitosas recomendações. Martin Fischer...”
Referências e notas explicativas:

[01] QUINTA COLUNA é um termo usado para se referir a grupos clandestinos que trabalham dentro de um país ou região, ajudando a invasão armada promovida por um outro país em caso de guerra internacional, ou facção rival no caso de uma guerra civil. Por extensão, o termo é usado para designar todo aquele que auxilia a ação de forasteiros, mesmo quando não há previsão de invasão.
A origem da expressão remonta a Emílio Mola Vidal, general nacionalista espanhol que atuou na Guerra Civil Espanhola. O termo ganhou força no curso da Segunda Guerra Mundial, denominando aqueles que, de dentro dos Países que combatiam o Eixo, apoiavam a política de Guerra nazista e de seus aliados, tal como aconteceu com parte dos alemães que habitavam os Sudetos ou com os fascistas Brasileiros.
A ação de uma quinta coluna não se dá no plano puramente militar. Assim como os demais partícipes de uma guerra, os elementos quinta-colunistas agem por meio da sabotagem e da difusão de boatos. Em outras palavras, pode-se dizer que a força da quinta coluna reside tanto na possibilidade de "atacar de dentro", como na capacidade de desmobilizar uma eventual reação à agressão que se intenta. Fonte: Wikipedia. Disponível em: www://pt.wikipedia.org/wiki/Quinta_coluna
 [02] HUGGINS, Martha. Polícia e Política: Relações Estados Unidos/América Latina. São Paulo: Cortez, 1998, p. 73.
[03] Ibid.
[04] Ibid., p. 73-74).
[05] BAUER, Caroline Silveira. O Departamento de Ordem Política e Social do Rio Grande do Sul (DOPS/RS): Terrorismo de Estado e Ação de Polícia Política durante a Ditadura Civil Militar Brasileira. Revista Ágora, Vitória, n. 5, 2007, p. 1-31.  Disponível em: https://docs.google.com/viewer?a=v&q=cache:cG7o7sMU6e4J:periodicos.ufes.br/agora/article/download/1908/1420+&hl=PT-BR&gl=br&pid=bl&srcid=ADGEESiofK2ZP1pV_g6Ho9yHI8Xa41vlt32ZJZqkAS6XMHw-wEnD2UdVEcQkHr_FzUtNjtCbWVo7w5kohzErLNVoOe7v5ZIeff2hJVCl_Ue2l1ojM80GXt7L8Az8f0VkkW-WUYRQfc-R&sig=AHIEtbTemrkwlQhMqZgyOBgIdPlUYvGR1g

  Pesquisadora e historiadora Marcia Adriana Krug