Dr. Martin Fischer |
O jornalista e historiador Martin
Robert Richard Fischer, nascido em Konigsberg, capital da Prússia Oriental, no
dia 10 de fevereiro de 1887, viveu os primeiros anos de sua vida na Alemanha
onde experimentou as crueldades da 1a. Guerra Mundial.
Como capitão, lutou no “front” russo em 1914-1918, ferindo-se quase que
mortalmente, sob as ordens diretas do kaiser Guilherme II. Foi condecorado com
a Cruz de Ferro (Eisernes Kreuz) por
serviços prestados ao governo da Alemanha.
Segundo
pesquisas e artigo da historiadora Márcia Krug, publicado no Blog "IJUÍ -
MEMÓRIA VIRTUAL" (disponível em: http://ijuisuahistoriaesuagente.blogspot.com.br/2012/08/serie-dr-martin-fischer-03-sobrevivente.html):
"Martin Fischer chegou pela primeira vez ao Brasil em 28 de fevereiro de
1921, para trabalhar como redator-chefe do jornal alemão “Deustsche Post,” de
São Leopoldo, pertencente à firma de Wilhelm Rotermund, criador do Sínodo Rio Grandense, que congregou a
maioria dos luteranos gaúchos e tinha estreita relação com a Igreja Evangélica
Alemã.
Com as divergências entre os luteranos e católicos
travadas através de artigos dos jornais, mais as questões políticas da época, o
“Deustsche Post” sofreu vários atentados. Mas o de 28 de janeiro de 1928, foi o
mais grave, aonde se deu o empastelamento do jornal. Após este triste episódio, Dr. Martin
Fischer volta para a Alemanha e segue
trabalhando como gerente na
Agência Oficiossa do Governo em Berlim (WTB) e DNB ao qual dominavam as comunicações na Alemanha".
Em 1933, Martin Fischer deixa definitivamente a
Alemanha. Depois de uma breve permanência no Brasil, foi morar em Buenos Aires,
Argentina, assumindo a direção do escritório da Agência de Notícias Alemã
(D.N.B), cargo que abandonou em 1937, por divergir do nazismo e seus líderes.
Márcia continua em seu artigo: "... Com a
ascensão de Adolf Hitler ao poder na Alemanha, houve a pressão para que Dr.
Martin Fischer, então na Argentina, fizesse o juramento ao nazismo. Ato
impraticável por este homem, que acreditava em valores e ideais de liberdade e
conhecimento que já tinham sublimado em sua alma. Como poderia ele trair suas
crenças?
Restava então,
redigir a sua carta de demissão e vir embora para o Brasil. Podemos encontrar a
cópia desta carta, como também a resposta dela feita pelo partido nazista, nas
páginas do livro do Tenente Coronel Aurélio da Silva Py, então chefe da polícia
do Rio Grande do Sul com o título de “A quinta coluna - A conspiração Nazista
no Rio Grande do Sul”. Nesta publicação Py torna público todas as declarações
feitas pelo Dr. Martin Fischer sobre o nazismo e a atuação da Gestapo na
Argentina, selando assim a sua impossibilidade de retorno para a Alemanha.
Segundo a Wikipédia a "Quinta-coluna" é uma expressão usada para se referir a grupos
clandestinos que atuam, dentro de um país ou região prestes a entrar em
guerra (ou já em guerra) com outro, ajudando o inimigo, espionando e
fazendo propaganda subversiva, ou, no caso de uma guerra civil,
atuando em prol da facção rival. Por extensão, o termo é usado para
designar todo aquele que atua dentro de um grupo, praticando ação
subversiva ou traiçoeira, em favor de um grupo rival.O quinta-colunismo não se dá no plano puramente militar mas também por meio da sabotagem ou da difusão de boatos, "atacando de dentro" ou procurando desmobilizar uma eventual reação à agressão externa. (https://pt.wikipedia.org/wiki/Quinta-coluna).
Diante de todo
este contexto, Martin Fischer largou tudo e foi morar as margens do Rio
Uruguai, na cidade de Iraí, no noroeste do Estado. Tentar a vida como
agricultor, em uma pequena propriedade, plantando cana de açúcar. [...].
Mesmo
morando em Iraí a vida lhe trouxe muitas surpresas, algumas boas, como a
inspiração para escrever o livro “Iraí, cidade saúde”.
Delegado Plínio Brasil Milano |
E outras que deixariam
marcas profundas para o resto de sua existência, como [...] sua prisão pelo
delegado de Iraí, que foi feita baseada em acusações fornecida por um antigo
sócio (numa fábrica de aguardente) chamado Sr. Antonio Pauly. A acusação era de
que ele pertencia a “Quinta coluna”, e
era um “espião nazista”. Entretanto, tal denúncia não foi longe. Ele
imediatamente teve sua prisão anulada e sua liberdade concedida depois que o
Delegado de Iraí recebeu um simples telefonema de Plínio Brasil Milano, então
chefe da Delegacia de Ordem Política e Social do Rio Grande do Sul (DOPS/RS),
treinado pelo FBI e que desmantelou a rede de espionagem no Rio Grande do Sul
no inicio dos anos quarenta...".
Tempos depois, depois
de encerrado todo esse processo no qual foi envolvido, ele juntamente com sua
esposa Carlota, deixam de morar em Iraí para se mudar de vez para a cidade de
Ijuí, onde assumiu a função de redator do jornal Correio Serrano e
"Die Serra-Post", bem como também passou a colaborar com o programa
"Hora Alemã" que era transmitido por muitos anos na Rádio Repórter de
Ijuí. Nesse período conhece Mário Osório Marques, o
ainda Frei Matias, que o convidou para organizar um Museu ligado a FAFI, que
mais tarde irá se transformar no atual Museu Antropológico Diretor Pestana -
MADP de Ijuí, hoje com mais de 50 anos difundindo e preservando a história de
Ijuí e região.
PRISÃO DE ESPIÕES NAZISTAS NA CIDADE DE IRAÍ - TENTATIVA DE ENVOLVIMENTO DO DR. FISCHER NO ESQUEMA...
Baseado nestas
informações iniciais citadas no artigo da Márcia Krug, e instigado pela
curiosidade, nos lançamos na busca de maiores informações sobre a tal
"Quinta Coluna", e também de conseguir o livro original escrito pelo Tenente-Coronel
Aurélio da Silva Py, então Chefe da Polícia do Rio Grande do Sul, chamado "Quinta Coluna - A Conspiração do Nazi
no Rio Grande do Sul".
Livro este
considerado pelos livreiros como obra rara, esgotado, e muito valorizado pelos
que o possuem. Difícil também ter acesso a ele. Mas, tendo boa vontade,
perseverança de um historiador e pesquisador tivemos acesso a ele por vários
dias. Lemos grande parte do que o Chefe de Polícia investigou, pesquisou e
relatou de suas ações e investigações basicamente no estado do Rio Grande do
Sul, com algumas investidas também no estado de Santa Catarina. O livro foi
editado e publicado pela Editora Globo de Porto Alegre, em 1942, (segunda edição que tivemos acesso). Por seu
valor histórico, obra esgotada, publicamos aqui algumas de suas páginas que a
consideramos mais importante, tendo foco o relato e o envolvimento de forma
injusta de Martin Fischer, o qual é citado várias vezes no livro, por ter sido também
arrolado no processo de identificação e captura dos espiões nazistas.
Também há
no livro várias vezes citações do ex-Intendente de Ijuí, médico Ulrich Kulmann, na época também
representante consular do Governo Alemão para o Estado do Rio Grande do Sul. No livro há um capítulo onde é relatado vários
detalhes sobre a "Prisão e Expulsão
de espiões nazistas..." em Iraí, pequena cidade hidromineral no interior
do estado de Santa Catarina
(https://pt.wikipedia.org/wiki/Ira%C3%AD_%28Rio_Grande_do_Sul%290).
"Prisão e expulsão de espiões nazista - Um caso com sabor de aventura"
Na introdução
do capítulo, de forma bastante irônica, o autor do livro, Tenente-Coronel
Aurélio da Silva Py, destaca que naquela pequena localidade do interior do RS,
em Iraí, se concentravam/moravam grandes personalidades estrangeiras, em
especial de nacionalidade alemã... e entre elas o dr. Martin Fischer... (página
284).
As investigações e
prisão dos espiões em Iraí foram feitas pelo Delegado Departamento de Ordem
Política e Social (DOPSs) do Rio Grande do Sul, com sede
em Porto Alegre, dr. Plínio Brasil Milano.
Cidade de Iraí, RS, nos anos de 1940. |
Na página 286, um dos
dois espiões nazistas presos, de nome Bernardo Guilherme Maahs, relatou que conhecia
o dr. Martin Fischer.
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Imagem do Hotel Descanso em janeiro de 1944. |